quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Cartas II

Os sonhos, sempre eles, e agora, todos os dias. Se revezam entre sonhos bons e pesadelos. E, quando são pesadelos,  sempre acordo ofegante de barriga pra cima.

Eu me forço a acreditar que se ouvesse contato, retorno, sinal de fumaça, eu teria paz. Mas de que tipo de contato estaríamos falando, não é mesmo? Minha porção medrosa, carangueja, masoquista, me faz ficar confortável no silêncio - e na dor. Meus outros noventa por cento só têm vontade de te odiar.

As crias crescem rápido, você não acha? Uma dica preciosa: todas elas crescem rápido, não se volta atrás.

O ano vai embora tarde. E eu sigo esperando, não mais por você.

Lua.

domingo, 11 de dezembro de 2016

Cartas I

Eu e essa minha mania de sonhar com você. Novamente muito silêncio. Um encontro, um papo, uma transa. Não era épica, mas sabe quando a gente sente tanto tesão que o melhor é ir devagar? Acordei cheia de saudade e em milésimos de segundo lembrei da frase que escrevi pra você há uns dias, "as pessoas são nobres nas grandes causas mas péssimas no proceder cotidiano". Ela continua ecoando aqui.

Eu não sei onde você está e isso dói. Mais uma vez, fisicamente. É solitário estar só. Redundante, eu sei, mas sei também que você sabe do que estou falando porque sei que se identifica.

Apesar de tudo, meu corpo grita. Muitas coisas, de muitas maneiras. Grita teu nome inclusive. Você ouve daí?

Pra tentar dar tempo ao tempo, vou aqui contando uma história com imagens do Rio, essa cidade que pra gente é só ponte.

Sem acreditar,

Lua.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Clarice

Clarice já nasceu velha de espírito. Passou a infância chorando e sentindo saudade, sabe-se lá do que. Durante os verões no quintal de barro vermelho em que cresceu, seu coração quase explodia antes das cigarras quando as ouvia cantar. Foi em meio a essa melancolia, canto de cigarras, amor e barro que se forjou. Depois de um longo espaço-tempo se experimentando como quem experimenta um vestido, Clarice se ajustou e sabe quem é dessa vez. Durante o verão que se aproxima, ela planeja cheiro de chuva e melancia, deixar-se ser observada e não esperar mais. A felicidade mora nos detalhes. E Clarice também.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Foi o perfume

Há dias em que enxerga sinais pesados, e sábado foi especial. Depois de uma manhã de trabalho se organizou pra ver uma exposição em que, não a toa pra esse lugar na vida, o cara desenhava com linhas retas e só coloria em amarelo, azul e vermelho, as mesmas cores da rede. A conversa ia ficando pra trás no aplicativo e as escolhas para o dia fizeram com que o tempo corresse enfim mais devagar. Até que o pipoqueiro tinha o perfume dele e um moço pregava em nome de Deus com o nome daquela cidade na camisa. A saudade se transformou num monstro bem maior que ela. Ainda bem que o segundo turno acabou e que há post-its na parede.

domingo, 30 de outubro de 2016

Ele tem asas

A maternidade é uma loucura. Primeiro um outro humano é gerado dentro da gente a partir de pedacinhos microscópicos e, durante esse processo, o nosso corpo se modifica sem dó pra dar espaço e conforto pra esse ser. O humano "novo em folha" sai - e é foda pôr pra fora, de uma maneira ou de outra - e passamos meses sem dormir direito, comer direito, tomar banho direito, viver direito porque só dá tempo de cuidar da criatura. Na real, nunca mais se "vive direito" depois dessa experiência, esquecem de enfatizar que é para vida inteira. E vida inteira é tempo a beça. Ainda tem nessa conta todas as mudanças que o novo humano traz pra gente, e que não são só físicas. Quem dera que fossem.

Passado o susto inicial, o serumaninho vai ficando gordinho, fofinho, engraçadinho e apesar da lambança que faz, a gente se apaixona perdidamente. E tudo vai se ajeitando, se assentando, e o que saiu de dentro de mim aprendeu a andar depois de gastar todas as rodas do andador, falou mamãe a primeira vez pra nunca mais parar, comia apenas cinco coisas diferentes porque colocava todo o resto pra fora, começou a dormir longe de mim aos 8 meses sem problemas, chamava as pessoas de "mitil" ao invés de gentil aos 2 anos e chegou a hora de ir pra escola... até o dia em que me dei conta de que tinha em casa um moleque de quase 7 anos, que me pentelha há meses e com toda a razão pra que eu o matricule na natação, detesta ir pra escola, gosta de jogar no computador, de assistir desenho japonês e filmes de fantasia, negocia que eu leia gibi pra ele dormir, fica "de cara" com os amigos da escola que acham que tem coisa de menino e coisa de menina, odeia acordar cedo, me dá o abraço mais delicioso e "bola pra frente" do mundo, sabe contar histórias de terror como ninguém, entende perfeitamente a vida corrida e louca que a mãe tem, até agora já quis ser astronauta, cientista, pintor, me diz no meio da exposição do Mondrian que compreendeu que dá pra fazer árvores com outras figuras geométricas além do círculo e é a criança mais independente que conheço. Muita coisa mudou desde que ele nasceu, já passamos de várias fases no game. A única coisa que não muda, desde a primeira vez que eu o peguei no colo, é o jeito dele de me olhar, um olhar cúmplice e que me atravessa. Não existe caô numa relação como essa.

Eu nunca tive dúvidas de que ele teria asas enormes. E tô aqui só pra dar impulso, sem me arrepender por um momento de ter topado me tornar essa mãe.

domingo, 23 de outubro de 2016

Saudade, todo dia, é amor

Sonhei com você essa noite, duas vezes. Banho gelado, seu cheiro e um tchau silencioso seguido de um retorno sereno, com beijo digno de filme francês no final. Francês porque sonhei em preto e branco, além de nossos encontros reais me lembrarem o casal do Acossado, filme do Godard. Brega e clichê eu sei, mas surpreendentemente parecido com a gente. Ao contrário de quem você é na vida, nos sonhos você ficava calado e não tirava os olhos de mim, como que me lendo inteira, exatamente como naquele dia na sua cozinha. Lembro bem quando nesse mesmo dia você me enviou uma mensagem perguntando por que eu voltava. Fico torcendo pra que você se lembre da resposta.

Não está sendo uma semana fácil e percebi que quando fico triste dói minha cicatriz no pé da barriga. Faz muito sentido doer onde eu fui mais frágil. Talvez porque eu fique brigando comigo mesma, sem sucesso, pra nunca mais ser. Preciso dividir os passos com quem é caro pra mim, se não, não dou conta. Aprende a dividir também, vai te fazer bem. Não adianta querer dar conta sozinho, ninguém consegue. Muito menos querer salvar o mundo sem se salvar primeiro.

Quinta à noite, olhando pro céu num terraço acolhedor, experimentei um amor pleno, um amar tudo, sem angústia. Foi tão bom e eu não sentia há tanto tempo. Queria esbarrar com alguém que pudesse me amar junto comigo. Queria muito isso pra você também.

Todo dia, é amor. Mas só pra mim.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Lua em câncer no meio da minha vida

Saudade, eu te matei de fome
E tarde, eu te enterrei com a mágoa
Se hoje eu já não sei teu nome
Teu rosto nunca me deu trégua

Milagre seria não ver
No amor, essa flor perene
Que brota na lua negra
Que seca, mas nunca morre

Verdade, eu te cerquei de longe
E tarde, eu encostei no medo
Se ontem eu cantei teu nome
O eco já não morre cedo

Milagre seria não ter
O amor, essa rima breve
Que o brilho da lua cheia
Acorda de um sono leve

Irene
Irene ri

Irene - Rodrigo Amarante

Para ouvir e compartilhar o dia de hoje comigo, clique aqui.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

E será no auge do verão

O processo criativo depende de cumplicidade. Há muitas maneiras de chegar até ela e o tato foi a opção desejada, escolhida e planejada. O corpo vai ser tatuado pra celebrar o período em que se descobriu dona do próprio quebra-cabeças - ou do próprio "war". Só vai acabar quando acabar, e será no auge do verão. As coisas são como são.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Exemplares de fogo

O humor do mundo anda fazendo com que seus desejos se voltem para o fogo, elemento de gente a quem pertencem os gestos largos, os sorrisos grandes e os corações dourados. Tem um afeto grande por dois exemplares desses, e adora quando lhe confidenciam seus cansaços. Talvez porque seja da sua natureza querer pegar no colo, apesar dela querer abrir caminho só com um. Com o outro o encontro é o que é, sem mais. Tateando entre redemoinhos, aprendeu que só se deve dar a entender que o outro é caro se realmente for e que só se pode dar passos em direção ao outro se o outro der passos simultâneos em direção a você. É didático mas por vezes segue errante de propósito, não foi feita pra esquecer. Se liberta e vem viver, ela diria ao primeiro. Acordos não duram se você omite questões, ela diria ao segundo, apesar de não ter nada com isso. Sua única certeza no dia de hoje é a de que a vida não se calcula pela margem de erro.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Carta pra ela

Rebeca,

Entender que existem mil formas de amor é um presente do tempo. Achar no meio desse tanto de gente perdida alguém que sintonizou a mesma frequência que você é privilégio, dos grandes. Andam me salvando de mim mesma nossa necessidade bonita e tranquila de estar perto uma da outra. As conversas intermináveis sobre produção cultural e compreensão de metrópole que está dando frutos, as comidas preparadas de madrugada, o caminho centro do Rio x Nilópolis realizado de todas as maneiras e horários possíveis, as inúmeras vezes que dormimos, rimos ou choramos juntas, a única vez que fomos à praia e como foi um dos melhores dias desse nosso ano louco, as séries e filmes que a gente nunca assiste até o final porque sempre estamos cansadas demais, os rolês de carro ouvindo música alta, a noite da droga do amor, as percepções compartilhadas do que foi e é ter se tornado mulher, as vezes que a gente consegue tempo e toma uns cafés maneiros, como a gente se parece e é tão diferente ao mesmo tempo, o azul e o encarnado. Obrigada por me acolher frágil e me deixar descansar em você sem ressalvas, sem medo, sem culpa. Obrigada por me deixar te acolher também.

É uma felicidade enorme ter te [re]encontrado nessa vida.

Amo você, raynha.

sábado, 8 de outubro de 2016

Amarelinha

Certas roupas trazem lembranças, é como música e cheiro. Hoje vestiu uma saia que adora, preta, com bolsos e flores, que comprou pra sua celebração balzaquiana. Mas a lembrança que ela traz é a do dia seguinte, em que vestiu a mesma saia e foi se jogar pela última vez no lado oposto da metrópole. A compensação é que na amarelinha da vida, essa semana foi o 4 e o 5, aqueles números em que não precisamos pular numa perna só, graças a brodagem e sintonização de energia. Gente que escreve é meio velha, mas divide desejo e vontade de fazer direito como ninguém. Ela só precisa se convencer de que as coisas são como são. Sem drama.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Medo de barata

O lema da nova forma de se relacionar afetivamente parece ser o "não trepa e não sai de cima". Não sejam essa pessoa. Outro dia ouvi que a palavra é o último suspiro do gesto. Isso quer dizer que o corpo já falou de todas as formas possíveis antes de transformar em sons emitidos pela boca. E depois que dizemos muitas vezes, com o corpo e com as palavras ditas e escritas, chega aquele momento em que não há mais o que dizer - porque dá uma cansada pautar, problematizar, perguntar, se colocar disponível -  e só o que resta é sentir pra ir deixando de sentir aos poucos. Dizem pra mulher, a vida inteira, que ela não tem o direito de desabar, sabia? Minha nova inquietude vem de uma frase lida há uns dias: saudade, todo dia, é amor. Na moral, vocês tão com medo de quê?

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Tornar-se

Ao invés de fechar os olhos e dormir fica deslizando o dedo na tela do celular e vendo rolar o feed. Parece que quer encontrar. Várias curtidas de uma vez, um domingo de preguiça, um funk do momento, uma flor amarela, um filme do Tarantino, um áudio divertido no whatsapp, um cheiro bom. Não vai. Tem tanta gente soltando as mãos, não respeitando quem o outro batalhou tanto pra ser. Teve criança a beça e olho no olho com uma das filhas preferidas de mamãe. Que pena amor. Que pena. Um brinde às mulheres que se tornaram. Ninguém chega aos 30 impune. A ancestralidade vibra.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

A falsidade da calmaria

A vida vai passando que nem água em leito de rio. Passa e não retorna, nunca mais. Por mais que tente, ninguém consegue segurar e tudo vai acontecendo no tempo que tem que acontecer, não no tempo que a gente quer. Hoje eu vi um papo reto de uma mulher pra um cara na rua e ela berrava que "ao contrário da outra, que havia traído ele com o irmão, ela sempre estava ali". Li outro papo reto, uma postagem de uma amiga, que dizia "homem tem medo de mulher poderosa e bem resolvida". Eu não sei exatamente porque entrei nesse assunto no meio desse texto, talvez seja porque eu goste muito de um bom papo reto (embora geralmente eu me foda por causa disso). Agora eu me sinto suspensa, vazia. Nada é bom, nada é ruim. A ansiedade do que está por vir - porque sempre há vida por vir - é só o que me faz companhia. A merda é que ansiedade dói, fisicamente. Nem os barracos na beira dos trilhos, nem as cento e dez vezes em que me atirei, nem a imagem e som em movimento. Tudo é um grande nada. Tudo é calmaria. Por hora.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Os Três Mal-Amados

Joaquim:

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés.  Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.


As falas do personagem Joaquim foram extraídas da poesia 
"Os Três Mal-Amados", constante do livro "João Cabral de Melo Neto - Obras Completas", Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59.

sábado, 27 de agosto de 2016

Arco e flecha no sábado

Quando viu o quadro vermelho na parede ganhou fôlego grande pra mais essa empreitada. Todas as vezes que essas revoluções acontecem, lembra de um certo jogo em que ouviu que enquanto o cara metade homem e metade cavalo existir, não precisa se preocupar com alguns aspectos. Não dá pra não ser fechamento. Como não existe mundo perfeito lembrou também, em vários momentos do dia, do quanto é trouxa. Tanta tecnologia e os aplicativos ainda não travam ao detectar álcool e outros trecos no sangue. Não adianta nada ser linda e divertida de longe - a vontade é de dizer essa frase num megafone à beira da baía. O nonsense demora um pouco mais pra passar por ali porque caranguejo anda de lado mas, já que estamos falando de lembranças, é importante ressaltar que sobrevive na lama como ninguém.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Pilha de papéis

Rasgando uma pilha de papéis e no ouvido o verso "hoje acordei sem imagem e sem som". A cabeça só pensa em quantas coisas tem vontade de dividir - nada de importante, como sempre, só fofocas, memes e trechos de um livro bacana - e não pode porque tem um muro amarelo na frente. A decepção consigo mesma por ter gasto uma hora de terapia falando desse negócio que inventaram juntos, mas que ele decidiu sozinho deixar pra lá, só cresce. Tanta coisa mais importante pra falar, pra acalentar, pra resolver...  o conselho ela já decidiu que não vai seguir, porque não tá forte o suficiente pra se despir sozinha de novo. O céu e inferno de áudios no whatsapp está arquivado, faz parte do processo de desamor não querer ver. Se não tivesse decidido que a mensagem de feliz aniversário seria a última, adicionaria uma observação: bicicletas são pra pedalar e não pra servir de composição pra foto.

sábado, 20 de agosto de 2016

Saudaditu

Hoje eu acordei me sentindo doente. Dor no corpo provocada por cansaço, seios doloridos por conta da tpm de todo mês e saudade. Mas um dia eu ouvi de uma bruxa das boas que o "e se" não existe e que as escolhas do outro são de jurisdição do outro. O que nos resta é viver e trabalhar para que passe, ou seja, nos resta tudo. Deitada agora na minha cama, me sinto como o Daniel daquela música que diz assim:

"Mas, tão certo quanto o erro de ser barco
A motor e insistir em usar os remos,
É o mal que a água faz quando se afoga
E o salva-vidas não está lá porque não vemos."

Vamos nos despedir juntos dos leões, Daniel?

sábado, 13 de agosto de 2016

Looping tipo de montanha russa

Uma música específica em looping no fone de ouvido. Ela, na cama, trabalhando com o laptop no colo, tenta organizar a angustia e ao mesmo tempo prestar atenção nas informações das cinco abas abertas ao mesmo tempo no navegador. E, ainda sobra espaço pra tentar compreender. Ainda. Entre a postagem de praxe de sábado, formatação de roteiro, ligação pro filho e conversa com a amiga sobre máquinas de fazer merda, pensa em fantasmas. Os jogos na era digital são cruéis porque não exigem olho no olho. Por hoje, tudo sob controle.

sábado, 6 de agosto de 2016

Olhando daqui

Meses de tropeços, lanches rápidos, dias nublados, (des)encontros e paisagens passando pela janela. Mesmo com toda a dor, fúria, tesão e pressa gerados, o agora é só plenitude. Olhando daqui, os maiores presentes da vida são os movimentos cíclicos, os "é isso!" ditos em comunhão, os moldes de um futuro próximo e as chamadas em vídeo no messenger. É preciso se afastar aqui pra se aproximar ali. É preciso abrir mão, deixar ir. Ser humano é bicho que complica o lógico. A física explica, dois corpos não ocupam o mesmo espaço. Mestres são pra vida toda, esse filme é sobre a gente, o mundo é pequeno pra caramba. Ô sorte!

domingo, 31 de julho de 2016

Sobre raiz, talo ou ramo

Pensar e circular a metrópole importa. A frase foi martelando a cabeça durante todo o caminho de Olinda à Praça Onze, enquanto respondia uma mensagem pelo whatsapp da maneira que precisava. Não conseguiu distinguir se a inquietação no estômago acontecia por causa do dia produtivo e da frase que ecoava ou por conta da mensagem. O cansaço da semana bateu inteiro na mesma hora em que saiu da estação de metrô e viu o circo iluminado. Inquietação, cansaço e alguns sorrisos, a rotina tem sido cíclica. A natureza dela não sabe lidar com mensagem sem resposta, mas ela também não responde quando não se importa. Em botânica, rizoma é um tipo de caule que cresce horizontalmente, podendo também ter porções aéreas e que tanto pode funcionar como raiz, talo ou ramo. Não precisava do conceito filosófico pra entender pra onde a Ryzoma que estava criando de mãos dadas iria, mas gostaria de ter voltado pra casa.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Fechando o semestre

Toda uma geração de inquietos, com mérito, sagacidade e energia suficientes para ser fluxo e que não consegue nem ser a ultrapassada rede.
Falta compreender que ninguém é ou será fruto, a parada aqui é ser semente. Falta se importar e respeitar a trajetória do outro, porque todo mundo aqui tem dor.
Sobra ego. Falta cuidado. Falta afeto.
Estamos apontando pra onde? Ou melhor, pra quem?

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Mas minha mira me era confusa

Mira Ira
Tá tudo padronizado
No nosso coração
Nosso jeito de amar
Pelo jeito não é nosso não
Tá tudo padronizado
Me mira ira
Me mira mas me erra
Mas minha mira me era confusa
Mudando meu amor de endereço
Fria
Não mira ira
Não miro mas te acerto no peito
Quando mudo meu amor de endereço
Me mira ira
Me mira mas me erra no escuro
Sentindo teu amor profundamente
Karina Buhr (essa maravilhosa <3)

Ouça aqui! 

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Campanha pelo fim dos clássicos narrativos ou o amor não é filme

Depois de dias tentando, consegue finalmente dormir sem grandes dificuldades antes das duas da manhã. Mas, assim do nada, como se estivesse num clássico narrativo, desperta no momento certo pra ver o que precisa pro desfecho dessa história. Fogos de artifício no peito, só consegue pensar que não tem vocação pra esse lugar e que não vai dormir antes das duas novamente. Pleno 2016 e ainda dizem por aí que a gente anda só.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Desejo X Suavidade

No dia 2 pós a virada do retorno, deu o braço a torcer, como poucas vezes, de que está perdida. É a cara dele chegar dando cambalhota, com seu sorriso grande e atmosfera que já tem nome - se chama "suave" - mas ela tem dificuldades de leitura. Desejo, olho no olho, papo reto e suavidade são premissas. Tem gente faltando e ela não sabe se tem que esperar chegar. Dificuldades na leitura é uma merda.

PS: enquanto escrevo tem uma menina no ônibus, do meu lado, tentando convencer por telefone o namorado a não dar um tempo, depois dele ficar puto com uma curtida que ela deu numa foto no Instagram. Se eu não tivesse mal humorada, diria pra ela terminar esse namoro logo, chorar 3 dias e ir ser feliz. Não há convencimento no amor.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Curtidas

A insônia vinha acompanhando há algum tempo e num dia foi transformada em curtidas. As redes sociais e sua vocação para as friezas e para o não palpável também têm o poder de catapultar de "nada de novo sob o Sol" para "não sei lidar com fogo, ainda não aprendi". Sair da zona de conforto às vezes dá frio na barriga.

Teve amigos em comum, filme ruim, posts ensaiados, maldições e gargalhadas. Depois da foto em p&b, leu no caminho que "tem tipos de trocas em que todo mundo lucra, deixando geral mais próspero e mais bonito". É o baile que segue.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Aqui acumulamos demandas

Dos três dias de descanso, separou o último pra dar rumo na vida. Os dois primeiros foram repletos de cama, pessoas queridas, bebidas e sorrisos. Falando do campo das saudades, a morte de uma em específico é sempre um ensaio, falta clareza e olho no olho - mas já aprendeu que tem coisas que deixam de importar com o tempo, e ela é paciente. Acordou na manhã do terceiro dia com o ventre pesado, o seio dolorido e uma gripe imensa. Agora é aguardar o momento em que a natureza vai descartar mais um pedaço não fecundado, tomar uma vitamina C e passar mais um dia sem se dar rumo.
Pensou em escrever na parede do quarto "Aqui acumulamos demandas".
Nunca é proveitoso e criativo, porque quando está no ninho só quer se desligar. O mundo é um monstro que ela só vai enfrentar amanhã.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Antes, não era.

Saturno, o planeta professor, exigiu que a liberdade viesse inteira custando o que custasse, implacável. Lá se foram anéis, dedos, casa, coração. O vivido, o pouco experimentado, o que estava por vir, tudo isso foi-se também. Destruir para se refazer, sozinha. Sozinha. Ninguém poderá dizer que a conhecia, a partir de agora se apresentará novamente a cada um de seus parentes, amigos e afins. Saca a história da lagarta que vira borboleta? Não se trata só da beleza final da transformação, trata-se também e principalmente do medo do "lá fora". Agora acabou o medo. Agora, ela é ela. Antes, não era. A beleza se encontra nos processos.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Organizando pra desorganizar

Entendeu que na organização do seu canto, é importante que tudo esteja ao alcance do olhar. Assim se sente segura. Mais importante que o passado só o futuro. Ela quer chegar lá mesmo que à pé, e claro, carregando na mala tudo o que lhe pertence - aqui não tratamos apenas do palpável. Queria voar todo o tempo, livre de magnetismo. Mas não tem jeito, de vez em quando volta pra olhar o morador de um lago específico. Nesse período de [re]entendimentos internos, gostaria de não ter essa chama acesa no peito, ela confunde os pensamentos e quereres. "Nunca é só sexo", a frase ecoa e ela diria que é quase um provérbio dedicado aos regidos pela água.

sábado, 2 de abril de 2016

Gambiarra ou "god save the queen"

Balde, garrafa, fumaça. Tudo mediado pela água e pela pasta de imagens que ela guarda como um tesouro e parece estar dividindo pela primeira vez, se justificando a cada fragilidade que aparece. E se não for a primeira vez que divide, não importa, é exatamente como se fosse. Só resta entre elas os segredos que não se dividem com ninguém, de resto, tudo palmeado. Olho claro, olho escuro e gambiarra. Ninguém ensina, ninguém aprende, só há o desejar sem precisar esperar nada em troca. O nome disso é liberdade e amor. Enquanto pra elas basta ser o que se é, eles são cheios do querer ser.

sexta-feira, 25 de março de 2016

Meta

Estava lá, quieta, com suas perdas, seus ganhos e tudo o que estava por vir. Entre cabos de guerra, paixonites e silêncios - daqueles que a gente faz quando cansa - meteu a mão conscientemente numa colmeia. Entre picadas e mel, o dia foi bom. Tombos bem calculados de maneira imprecisa, essa é a meta.

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Anúncio

De longe era um túnel possível. De perto, buraco de agulha. Sem haver outra maneira de passar para o outro lado, vai diminuindo como de costume. Depois de atravessado, o que será do buraco? E dela? A placa no pescoço, pesada, de madeira entalhada à mão, com corrente dourada, anuncia "Troca-se alma por paz de espírito". Os dias de peso e os dias de asas costumam revezar.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Carnaval sem lua no céu

No transcorrer desses dias líquidos, faltou purpurina. Entendeu que não adianta buscar fora se a procura é pelo que está dentro. A energia pulsa a cada esquina. Rua, rua, rua. No estar só mesmo que no meio de um bando de gente, o céu completamente azul rouba a atenção. As noites foram de Vênus, sempre lá, soberano. Bruxa não mexe com magia sem lua no céu, prefere pegar Sol. A quarta com cara de fim da linha é feita de cinzas, restos do que foi queimado diversas vezes. Fênix não existe nessa mitologia, aqui sabemos muito bem quem mexe com fogo.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Fotos, presente e espaço de sobra

As fotos feitas com a câmera do celular revelam processos. Vai passando foto por foto sentindo tudo novamente, guiada por uma voz que diz: amor não é verbo e nem sentimento. Ninguém ensinou esse apego ao passado e esse excesso de futuro que os humanos dão nome de saudade e ansiedade, nasceu embebida nisso. Saturno retornou rasgando o casulo, trazendo vontade de presente e de estar só. O ciclo vai chegando ao fim e ela vai mirando julho, porque o mundo é imenso e ela tem espaço de sobra.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Reflorescendo

Os encaixes não são perfeitos e ainda assim existe firmeza. A boca tem gosto de saliva e o beijo é ainda melhor assim. Inventar gosto dá um tom de contos de fadas que não existe, pra ninguém. Saudade e pé no chão aqui andam juntos, delícia é ser quem se é e ansiedade é coisa que dá e passa. A vida é doce e ao contrário do que apontavam as pesquisas, há amigos. Amigas principalmente, porque só elas entendem. Prepara, porque tem muita adaga, espelho e força passeando por aí.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Olinda

O coração sendo estrangulado não respira e o aperto no peito bate pé. Essa sensação tem nome, sabe disso. Os trilhos, sempre os trilhos. Agora eles são escape, morada, passaporte, encontro, material de construção do que está por vir. O pragmatismo faz questão de lembrar que algumas escolhas feitas durante revoluções se tornam motores com força suficiente para trabalhar por bastante tempo. Batizados, o primeiro encontro de necessário e o segundo de bonito, o terceiro será uma mulher e se chamará sagacidade. Só tem a agradecer esse olho no olho. No meio do fluxo de pensamento retorna à questão primeira, passa nada, nem ar. Mentira, passa só o cara que não pede licença. Chega mais afeto, a casa é tua.

domingo, 10 de janeiro de 2016

Dos canyons imaginários

São tantas saudades que nem sabe. Não tá mais cabendo um amor de cada vez. Pode três? A essas alturas de janeiro, tudo o que precisa é de uma mochila com óculos escuros e duas mudas de roupas de verão. Olhando pro canyon imaginário, fica na dúvida sobre lançar-se no abismo e mergulhar no rio que passa lá embaixo ou atravessar a corda bamba estirada de uma ponta a outra. Não importa, a brisa que bate dá conta por enquanto, já que ela ainda não descobriu nenhuma pista sobre onde está soprando o vento bom.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Vestido azul

Hoje eu coloquei um vestido azul escuro. Agora eu tenho um, ao contrário da sua primeira lembrança minha em que eu apareço com um vestido azul escuro que nunca tive. É louco a quantidade de leões em volta e eu me pergunto se preciso matar todos eles. Tenho quase certeza de que você me responderia que não, pra deixá-los livres e ser feliz com as leoas, ou sozinha. Existem muitas alternativas e um mais um pode dar dois ou pode dar muita gente. Eu posso querer tudo e depois é só lidar com a insônia, efeito colateral da ansiedade, uma das moradoras desse coração que cabe mais coisas do que devia.