quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Camões versus mangue

Na volta pra casa, se sentindo acolhida pela palavra falada e escrita, trombou com a frase de um poeta, homem e português, que desceu como novalgina líquida em seu dia “Transforma-se o amador na coisa amada”. Foi difícil de lidar com o gosto da frase quando o objetivo de seu corpo e mente no mundo vão contra, mas ela faz sentido, até no uso da palavra “coisa” para personificar o ser amado. Reciprocidade é oferta rara no mercado porque amar dá trabalho. Transformar-se na coisa amada é risco para os que se aventuram, tropeço esquisito tipo vestir roupa que não cai bem. 

Apesar do amargo na boca depois de engolir, a organização das caixinhas dos amores está em dia e o respirar tranquilo, mandaram avisar que não há como ter controle sobre tudo. Perdeu o medo de perder e o medo de se perder também. Foi nessa perda que teve certeza de que ninguém vai embora, geral tá fatiado e com partes distribuídas por aí. 

Chegou em casa e no dar play numa lista qualquer no YouTube, tocou Chico, também poeta, também homem, mas brasileiríssimo, nordestino e que canta o mangue como ninguém “A responsabilidade de tocar o seu pandeiro é a responsabilidade de você manter-se inteiro”. Camões, querido, em terras úmidas você perde feio.