quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Clarice

Clarice já nasceu velha de espírito. Passou a infância chorando e sentindo saudade, sabe-se lá do que. Durante os verões no quintal de barro vermelho em que cresceu, seu coração quase explodia antes das cigarras quando as ouvia cantar. Foi em meio a essa melancolia, canto de cigarras, amor e barro que se forjou. Depois de um longo espaço-tempo se experimentando como quem experimenta um vestido, Clarice se ajustou e sabe quem é dessa vez. Durante o verão que se aproxima, ela planeja cheiro de chuva e melancia, deixar-se ser observada e não esperar mais. A felicidade mora nos detalhes. E Clarice também.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Foi o perfume

Há dias em que enxerga sinais pesados, e sábado foi especial. Depois de uma manhã de trabalho se organizou pra ver uma exposição em que, não a toa pra esse lugar na vida, o cara desenhava com linhas retas e só coloria em amarelo, azul e vermelho, as mesmas cores da rede. A conversa ia ficando pra trás no aplicativo e as escolhas para o dia fizeram com que o tempo corresse enfim mais devagar. Até que o pipoqueiro tinha o perfume dele e um moço pregava em nome de Deus com o nome daquela cidade na camisa. A saudade se transformou num monstro bem maior que ela. Ainda bem que o segundo turno acabou e que há post-its na parede.