Descendo a passarela em formato de caracol da Estação de Austin, com aquele vento gelado da manhã, o cheiro das verduras e frutas das barracas e o som dos jingles de políticos pra acompanhar, se deu conta de que tudo na vida é um eterno espiral, com todas as suas proporções áureas, sequências de Fibonacci e homens vitruvianos. Não foi dia de poesia, foi dia das extremas razões mesmo. Quem não tinha sete cabeças exatas de tamanho, teve vontade de desaparecer.
terça-feira, 7 de outubro de 2014
sexta-feira, 3 de outubro de 2014
Sobre a saudade do que não conhecemos ou Real Raciocínio
Numa pesquisa rápida pela internet, encontrei dois links que ajudam a entender um pouco de quem foi esse cara e de como a figura dele foi extremamente importante num momento de grande efervescência para a cultura aqui da cidade. Dá uma conferida aê: "Amigo" e "Caçadores de Perereca".
Em janeiro de 2007, Diego Bion, meu companheiro de amor e ideias, fez o filme "Sobre a Raízes das Laranjeiras ou Real Raciocínio" (para assistir, CLIQUE AQUI) baseado no texto do Cisinho. Participei do filme contribuindo em vários estágios da produção e Marcos Serra também, atuando. Na época, ninguém sabia ao certo do paradeiro do Cisinho, alguns diziam que ele tinha voltado pra Bahia, e estavam certos. Descobri na minha pesquisa na internet que ele faleceu em outubro de 2007 na cidade de Barreiras na Bahia e foi sepultado em sua cidade natal, que fica aqui do ladinho da gente, Belfod Roxo. E eu, infelizmente, não tive a honra de conhecê-lo e de mostrar esse filme pra ele.
Bom, eis o texto, que sei até hoje de cor:
Real Raciocínio
de
Ileci Ramos Filho
Entro e saio
de vidas
afundo e
desafundo minha alma na alma dos outros...
Depois grito,
regrito e desgrito e encaro a barra de viver comigo triste
o tempo todo
sem socorro sem ninguém que me valha neste ou naquele fim...
estanca minha
vida e eu, pessoa, raciocino
força e
fonte mental de solução: calo, recalo,
descalo e sigo em frente falando e pensando tudo novamente.
Engraçado...
anoitece e nem sempre é noite
mais
engraçado ainda, é que é nas noites dos poderosos desses tais “comigo ninguém
pode” é que procuro e acho os meus escapes, quando dentro deles penso: “amanhã
eu vou acordar com uma grande idéia na cabeça” - pensando assim adormeço e levo
para a cama a certeza de que essa idéia irá revolucionar o mundo.
Amanhece,
chega o dia... nada acontece!
Mas também
pudera pensar direito, quem achar que eu pensei as avessas estará enganado,
completa e redondamente enganado. Eu? Eu sou a ilusão que virou gente! Quando?
Num dia qualquer, num ano qualquer, no mês tal, hora tal, etc... e outros
tantos tais. Tive dúzias de possíveis feitores, todos retardatários, imaginem
todos crédulos de minha própria autoria.
Mas foi-se o
tempo, aqueles malditos tempos, em que em cada frase deles havia uma cela
aberta para mim.
Eu sou uma
represa invadida que estourará enlameada de dúvidas. Isto porque eu sou feito
de buscas, eternas procuras sempre ocultas em mim, este semi-cadáver ambulante
que perambula visível aos olhos nus dos que me fitam.
Se alguém
perguntasse: “quando essa represa que sou irá explodir?” Eu responderia:
-Não sei! E
acho que ninguém sabe. Pois o dia é hoje, amanhã é promessa de alguém que pensa
ou sabe realmente mais.
Mas, ó
sublime inteligência, príncipe e futuro rei da paciência, impossível legar-te
mais sofrimento, porque negar a este devoto um novo voto de confiança antes que
ele sucumba sem antes mesmo de discernir que isto é bom, isto é mal, isto é
feio, aquilo é bonito e assim sucessivamente.
É de mim, sim
é de mim! É de mim que vaza o silêncio dos outros. É de mim, também, que chega
o ócio do grande cigano, o maior de todos, o dono de todos, o príncipe e futuro
rei da minha impaciência de ser feliz.
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