sábado, 5 de setembro de 2015

DNA

Até onde eu sei, nossa história está no Rio de Janeiro. Começou em Campos dos Goytacazes, mas a gente não se espalhou muito. Da segunda parada no Complexo do Alemão, teve um tantinho do qual faço parte, que veio pra Nova Iguaçu na década de 70. Mas apesar de ter vários descendentes que nunca colocaram o pé pra fora do Estado, a gente olha adiante, sempre percebendo o todo porque afinal de contas o umbigo não é o centro do universo. Ao contrário da família tradicional brasileira, que tem grupo no "uatisapi" só pra tomar conta dos parentes, o nosso é intitulado "Família Boticário" com direito à foto da matriarca colorida com as cores da bandeira LGBT porque aqui a gente percebe o óbvio, todo mundo tem de ser exatamente o que se é. E sim, M A T R I A R C A, uma senhora linda, filha de Iemanjá, de cabelos brancos, olhar melancólico, amor que não cabe no peito e mãos fortes, que pra mim vai ter pra sempre cheiro de bala de leite e que nos ensinou o que é respeito, generosidade e devoção aos ancestrais. Aqui o ceticismo passa longe porque tem coisas que a gente sente vibrar na pele. A gente gosta de tambor, de almoço de domingo, de confiar no irmão. A gente briga, mas nunca fica sem falar, porque isso é coisa de quem guarda rancor e a gente aprendeu que a paz de espírito é uma bênção. O nosso único patrimônio é um quintal com árvores de manga, acerola e abacate guardado por Ogum. É aqui que eu sinto saudade da infância, do pique esconde com o tio emprestado, dos primos-irmãos todos mais novos que eu, do vô chegando com sacolas de frutas aos sábados pela manhã, da gente pequeno ajudando a acertar o quintal feito do característico barro vermelho das terras iguaçuanas. É uma dádiva pra poucos saber pra onde voltar. E a gente sonha, dormindo, acordados, a gente sonha. E trabalha. É um privilégio e tanto ter esse sangue correndo nas veias, essa coisa onírica que vem do DNA dos Pinheiros.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Projeto de poema de fim de quarta:

O coração bate mais forte quando não pode bater
A fome dói mais quando não pode doer
O ser humano é ainda mais quadrado quando não pode ser.