Muitos quase afogamentos depois, a fala felina dela foi lá
e fez o que teve vontade. Ciclos de vinte e quatro meses acontecem e, bem na
madrugada de São João – ou de Xangô, pra quem prefere o panteão africano como
eu – tudo ficou num tom ansioso acima.
Depois de mais de dia de espera, a noite foi real, pé no
chão e leve como um punhado de terra da cor da pele dele. Receberam a visita de
brigadeiros mágicos, dos mais variados tipos de andarilhos e por último, de uma
flor e de um grilo, vivos, mas feitos de uma palha que parecia folha de
dendezeiro. Formava-se ali um reinado compartilhado, sem preocupações com
futuro ou passado e que estava de parabéns. Dali, o reinado atravessou a cidade
numa missão doce e, por fim, seus integrantes se dividiram. Sabiam que a
gente vem nesse mundo para fazer a nossa parte, da forma que a gente deve ser e, tudo bem.
No meio da rotina do dia seguinte, ela releu o recado de um
dos brigadeiros mágicos que dizia “O amor amansa pela constância” bem na hora
que começou a tocar Solamento. Sentiu um toque na boca do estômago avisando que já era hora de ouvir outra canção e, enfim, respirar aliviada, porque o
reinado sabia também que quanto mais a gente é quem a gente deve ser, melhor para
gente, e para o mundo. Fosse o que fosse, como boa filha da rainha
ancestral, não deixaria mais que faltassem manjericão, erva
cidreira, flores amarelas e, espada-de-são-jorge para que todos os caminhos se mantivessem abertos.