terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Ancestralidade importa

Dois dias ainda mais viscerais que os anteriores e se perguntando como isso era  possível. Foi o que ganhou tentando se refugiar. No meio de faxinas, espelhos e mais um mergulho no sagrado, compreendeu que está encontrando a nota, porque o que não falta aqui é música e caô. Nesse ponto decidiu que o ímpeto não é se encontrar nesse novo lugar, mas se perder. O reino de Oyó tem um Rei, mas não podemos jamais esquecer de sua Rainha.

domingo, 27 de dezembro de 2015

Dezembro

Enquanto algumas marcas somem, se consome pensando em como se livrar de outras. Ninguém compreende o tamanho das coisas, e tudo bem. Mas ela se pergunta se o que oferecem é ajuda ou mais um balde carregado d'água pra carregar . A desestabilidade é tamanha que atinge outras histórias dentro do clã. O suposto aniversário de Cristo não faz bem, só afirma que leite quando derramado não se junta nunca mais. As tangentes também não servem pra muita coisa, o umbigo é tudo o que importa. Há males que vem pra males mesmo ou cabeça erguida e olhos adiante.

sábado, 5 de setembro de 2015

DNA

Até onde eu sei, nossa história está no Rio de Janeiro. Começou em Campos dos Goytacazes, mas a gente não se espalhou muito. Da segunda parada no Complexo do Alemão, teve um tantinho do qual faço parte, que veio pra Nova Iguaçu na década de 70. Mas apesar de ter vários descendentes que nunca colocaram o pé pra fora do Estado, a gente olha adiante, sempre percebendo o todo porque afinal de contas o umbigo não é o centro do universo. Ao contrário da família tradicional brasileira, que tem grupo no "uatisapi" só pra tomar conta dos parentes, o nosso é intitulado "Família Boticário" com direito à foto da matriarca colorida com as cores da bandeira LGBT porque aqui a gente percebe o óbvio, todo mundo tem de ser exatamente o que se é. E sim, M A T R I A R C A, uma senhora linda, filha de Iemanjá, de cabelos brancos, olhar melancólico, amor que não cabe no peito e mãos fortes, que pra mim vai ter pra sempre cheiro de bala de leite e que nos ensinou o que é respeito, generosidade e devoção aos ancestrais. Aqui o ceticismo passa longe porque tem coisas que a gente sente vibrar na pele. A gente gosta de tambor, de almoço de domingo, de confiar no irmão. A gente briga, mas nunca fica sem falar, porque isso é coisa de quem guarda rancor e a gente aprendeu que a paz de espírito é uma bênção. O nosso único patrimônio é um quintal com árvores de manga, acerola e abacate guardado por Ogum. É aqui que eu sinto saudade da infância, do pique esconde com o tio emprestado, dos primos-irmãos todos mais novos que eu, do vô chegando com sacolas de frutas aos sábados pela manhã, da gente pequeno ajudando a acertar o quintal feito do característico barro vermelho das terras iguaçuanas. É uma dádiva pra poucos saber pra onde voltar. E a gente sonha, dormindo, acordados, a gente sonha. E trabalha. É um privilégio e tanto ter esse sangue correndo nas veias, essa coisa onírica que vem do DNA dos Pinheiros.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Projeto de poema de fim de quarta:

O coração bate mais forte quando não pode bater
A fome dói mais quando não pode doer
O ser humano é ainda mais quadrado quando não pode ser.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Derreto-me todos os dias

Caminhando percebeu que derretia, gotas e gotas já espalhadas pelo chão. Tinha o cinza do cotovelo, o verde folha da blusa, o marrom da boca, o azul marinho do jeans. Se andasse mais alguns metros viraria uma poça colorida no chão. Não estava calor, mas logo ali na esquina sabia que encontraria numa mesa de bar todas as paixões de que podia se lembrar. Não pensou duas vezes e foi colorir a cidade.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Sobre tudo passar, até as coisas que ficam

Vazio no peito. A esperança despediu-se em meio ao milésimo de segundo anterior ao encontro entre a gaveta e a parede. Deu parede, claro. A força e o despejo dão o tom da notícia. Nem na pior das hipóteses ela esperava por aquilo. Sacolas cheias de dor, lágrimas e trapos são arrastadas escada abaixo. A temperatura é alta e os gritos também. Algo no peito se quebrou, exatamente como o vidro da janela da sala. Existem reações que não cabem aqui. Elefantes não entram pela porta da frente. Tudo o que ela precisava era ganhar flores no sábado de carnaval, mas nem isso aconteceu.