quarta-feira, 13 de junho de 2018

Guerra fria

"Você não vê mais os meus stories. Eu sei, a vida online é uma praga, todos precisamos de pausas, as urgências nos deixam doentes, o trabalho é enorme e é o que mais importa na vida. Mas e quando são as redes que diminuem essa distância de tantas cidades entre a gente? E você não deixa de publicar um só dia? E não deixa de aparecer online no WhatsApp? E quando tem uma criança nossa crescendo aqui e nem pelo aplicativo você consegue acompanhar?"

A mensagem que mandou era essa. Ou quase essa, mas se não disse isso, era o que gostaria de ter dito. Quando enviou o peito apertou e pensou na Guerra Fria em que estavam vivendo nos últimos meses. Guerra que era fria porque ela não podia mais lidar com o abandono e engolia sapos em forma de mensagens que demoravam dias para serem respondidas, tentando humanizar a ele e a si mesma, porque a essas alturas a forma humana de ambos já tinha há muito sido abandonada, estavam totalmente despidos. Ela estava ok com isso, ele na tentativa tola e bizarra de se esconder, era risível. Constantemente seu lado selvagem a olhava bem nos olhos sem entender seu comportamento feminino clássico, aquele que homens gostam bem, que moram nas esperas, nas angústias, na resiliência - não à toa todos substantivos femininos. Não havia reciprocidade, apesar dela enxergar todas as feridas dele e do quanto ela tinha amor o suficiente para lambê-las e acolhe-las como se fossem suas. Mas mesmo que seu amor fosse enorme, ela não podia dar sem receber. Não podia. Não podia. Não podia. O passo em direção ao outro só quando o outro der passos em direção a você. A solidão no embalar do pequeno era tão fria quanto a guerra, mais fria do que o inverno que estava chegando. Mais fria ainda que a noite do abraço em frente ao circo. Exausta do looping das lembranças dessa primeira noite e da última, das tentativas, das dores e mergulhada numa saudade eterna do que não ganhou espaço pra ser vivido, só se agarrava em todas as razões pra esquecer. Não adianta ser praticamente da mesma origem, ter desejos parecidos, e nem o toque ser do jeito que é. Ela vai ter de nascer, de novo, outra vez.

"E que venho até remoçando
Me pego cantando
Sem mais nem porquê
E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você"

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