sábado, 23 de junho de 2018

Ana, a princesa e a encantada

A encantada disse para Ana assim, na lata, que a princesa não morreria tão cedo. Não da doença que lhe acometia mas sim, olha que ironia, se a morte viesse pra logo, viria da doença nos pensamentos que a doença provocou. E Ana não podia fazer nada em relação a isso.

O fato é que a princesa, achando que tinha pouco tempo para dar conta de todos os planos que a levariam ao trono tornando-a o melhor rei que seu reino já havia visto, estava endurecendo como concreto, mirando e acertando em sua própria cabeça.

Ana não tinha o que fazer com aquela informação, ela era totalmente inútil. A princesa estava inalcansavel, não acreditava em encantados e, havia montado pra si mesma um arquétipo que era um misto de Hitachi e Dr. House que dava nos nervos. Olhando de perto, ainda havia pitadas de Dom Quixote - que a princesa não nos ouça. Todos clássicos heróis de atacado que colocam o varejo em segundo plano, mas que, claro, têm seus motivos nobres para fazê-lo, afinal, não há tempo para os detalhes, nem para as sutilezas, muito menos para ser feliz.

A princesa, aos olhos de Ana, era mais uma mistura de Joel Barish, Michel Poiccard com um pouquinho de Aslan, mas isso não era real, o querer bem dá uma embaçada na vista mesmo.

Depois de deixar a encantada brilhando na varanda gelada, Ana foi até o livro da capa preta com os pensamentos às voltas com o insolúvel, abriu uma página aleatoriamente e leu:

"você precisa parar
de procurar um porquê em algum momento
você precisa deixar quieto"

Pegou um pedaço de vidro do tamanho da palma da mão, riscou o que a encantada havia dito e, por fim, seguiu o conselho aberto no livro.

Fim.

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