quarta-feira, 27 de junho de 2018

Mariwô


Muitos quase afogamentos depois, a fala felina dela foi lá e fez o que teve vontade. Ciclos de vinte e quatro meses acontecem e, bem na madrugada de São João – ou de Xangô, pra quem prefere o panteão africano como eu – tudo ficou num tom ansioso acima.

Depois de mais de dia de espera, a noite foi real, pé no chão e leve como um punhado de terra da cor da pele dele. Receberam a visita de brigadeiros mágicos, dos mais variados tipos de andarilhos e por último, de uma flor e de um grilo, vivos, mas feitos de uma palha que parecia folha de dendezeiro. Formava-se ali um reinado compartilhado, sem preocupações com futuro ou passado e que estava de parabéns. Dali, o reinado atravessou a cidade numa missão doce e, por fim, seus integrantes se dividiram. Sabiam que a gente vem nesse mundo para fazer a nossa parte, da forma que a gente deve ser e, tudo bem.

No meio da rotina do dia seguinte, ela releu o recado de um dos brigadeiros mágicos que dizia “O amor amansa pela constância” bem na hora que começou a tocar Solamento. Sentiu um toque na boca do estômago avisando que já era hora de ouvir outra canção e, enfim, respirar aliviada, porque o reinado sabia também que quanto mais a gente é quem a gente deve ser, melhor para gente, e para o mundo. Fosse o que fosse, como boa filha da rainha ancestral, não deixaria mais que faltassem manjericão, erva cidreira, flores amarelas e, espada-de-são-jorge para que todos os caminhos se mantivessem abertos.


Um comentário:

The unknown human who sold the world disse...

"Qanto mais a gente é quem a gente deve ser, melhor para gente, e para o mundo." Roubei pro Twitter, pra lembrar pra vida.