domingo, 8 de julho de 2018

Toda a flora

Uma personificação da Deusa no palco, outras tantas no chão e no teto. No meio da catarse coletiva que pedia pra deixar brilhar, todas elas se curavam, mas uma das Deusas do chão pulsava como quem se exorciza. Quando a Deusa que cantava chamou o piloto, o arremate no bordado fez ainda mais sentido e o autoexorcismo deu resultado, porque os processos não acabam, eles só dão lugar a outros.

"Que apesar de tudo me adora não foi suficiente, não é suficiente, porque é tudo tão mais real e bonito quando é facinho, quando todo mundo gosta de gostar. Vocês não concordam?". Ela pensava, se perguntava e dizia às outras ao mesmo tempo.

Há uns três ou quatro caminhos atrás, a Deusa do chão tinha confundido fogo com terra e acabou queimando o que restava. Mas não restava mesmo muita coisa, então foi melhor queimar tudo como num ritual antigo que conferia à árvore condenada alguma dignidade, do que perder mais tempo adubando as raízes de um tronco sem vida.

"Entendido isso, agora vamos lidar com isso. Como? Vivendo. É um desperdício ficar correndo atrás do próprio rabo. Quem quiser, que fique. Vocês não concordam?". Ela pensava, se perguntava e dizia às outras ao mesmo tempo.

Sendo o próprio gozo, dando passos em direção ao outro e o outro em direção a ela, saudade todo dia sendo amor, se amando junto com o outro e querendo isso pro outro também. Amor próprio, reciprocidade, afeto e respeito - pra deixar claro pra quem finge que não entende.

Dessa vez o caminho era de água com terra de verdade, lama pura pra todo lado. Aí não dá pra uma Deusa do chão, filha de caranguejo, não mergulhar. Eram dias de desfazer para refazer, dias para agradecer.

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