quinta-feira, 27 de março de 2008

Audiovisualista

O livro "De Corpo Inteiro" de Clarice lispector, é uma coletânea de entrevistas realizadas pela própria Clarice para a revista Manchete. No livro ela entrevista personalidades, entre eles músicos, poetas, doutores, e por aí vai. Lendo o livro, gostei bastante das entrevistas de Vinicius de Moraes, Chico Buarque e Jorge Amado. Mas nenhuma me chamou mais atenção que a de Alceu Amoroso Lima. Confesso que nunca tinha ouvido falar nele e fui pesquisar (resumindo muito, foi um crítico literário, professor, pensador, escritor e líder católico brasileiro. Tinha o pseudônimo de Tristão de Ataíde e se tornou membro da Academia Brasileira de Letras em 1935) mais na wikipédia

O que me fez ficar surpresa e sorrir sozinha lendo o livro foi o que Alceu disse em dado momento da entrevista (que aconteceu em 1969) para Clarice:

"- Qual o seu juízo sobre a literatura brasileira de nossos dias?
- Creio que continuamos a viver no desdobramento da revolução modernista de 1922. Os séculos se sucedem, é verdade, sem se repetirem. É possível que o século XX, portanto, divirja do século XIX, onde houve dois grandes momentos de renovação: a década de 1830 a 40 e a de 1880 a 90. Na primeira, passamos do classicismo ao romantismo; na segunda, deste ao realismo e ao simbolismo. No século XX, houve a revolução literária da década de 1920. Será que a próxima ocorrerá também antes de 1980? Será então a revolução audiovisualista, com a passagem da literatura escrita à oral e visual, como em 1920 houve a revolução modernista, com a passagem da escrita lógica à escrita mágica. Como não estarei aqui em 1980, você me dirá se havia algum fundamento na minha previsão..."

O curioso é que Clarice não chegou a viver 1980 (morreu em 77), e já Alceu sim (morreu em 83). De qualquer forma, é impressionante e bela previsão, a visão de futuro de Alceu, mesmo não tendo acontecido exatamente em 80. A última pergunta da entrevista é:

"- Qual foi o maior elogio que o senhor recebeu em sua longa vida?

- Foi guiando automóvel, numa curva difícil da estrada Rio-Petrópolis, chovendo, estrada superlotada, névoa. Fiz uma manobra arriscada e ouvi um dos meus filhos, então pequenos, dizer para o outro: "O velho é fogo na roupa..." Mas isso já foi há muito tempo..."

Concordo com o garoto. O velho foi mesmo fogo na roupa.


Imagem retirada da Wikipédia.
Alceu Amoroso Lima é o 5° da esquerda para direita em pé.

2 comentários:

Anônimo disse...

gostei do site das poesias vejam meu blog http://www.mmnjapao.blogspot.com moura888@yahoo.com.br

Anônimo disse...

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