sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Atravessada

A estrada de ferro atravessa minha vida. A infância em Marechal Hermes, a família dividida pela linha do trem, a estação antiga e linda, o medo de atravessar a passagem subterrânea e ser carregada pelo rio, o dia em que a chuva alagou tudo e ninguém conseguiu voltar pra casa. A adolescência no centro de Nova Iguaçu, saltar do ônibus em meio ao lado comercial caótico e passar pelos camelôs da estação em direção ao estágio na Casa de Cultura com seu silêncio sepulcral e o cheiro característico dos afrescos, atravessar diversos bairros andando com os amigos guiados pelo muro da linha. O primeiro emprego em Miguel Couto, o ônibus cruzando os trilhos dos trens de carga, os créditos dos primeiros filmes da escola de cinema que carregam imagens daquelas linhas nuas, sem muros. O contato com a história do companheiro em Itacuruçá faz do extenso ferro nos fundos de casa banco e confidente das conversas de família. Os dois últimos anos chegando à Austin guiada pela passarela de caracol da estação e recepcionada pelos cheiros das frutas e verduras. Pra coroar essa relação, um camarada conhecido como Peregrino, talentoso e parceiro como poucos, anda cantando por aí assim "mas que rumo segue a vida, será que ela segue o rumo do trem?".

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