quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Pertencimento

Demorou tempo pra emergir. Tinha verdadeira adoração pela sua ostra, quentinha, escura. Até que a fome começou a consumir tudo, depressa. Surgia da sua pele bocas famintas, minúsculas, milhares. Na cabeça, a dúvida entre sair e ficar, mesmo com toda a azia. O eco das frases "pode dividir todos seus desejos comigo" e "você é egoísta", do alto de sua bipolaridade, lhe enforcavam o coração que tentando respirar acabava por esmurrar seu peito. Não havia complacência, para com os outros realmente é mais difícil, e a fome comungava desse pensamento. Decidiu-se enfim por sair e foi subindo devagar, porque na água a gravidade funciona ao contrário. O infinito azul era gelado e gentil. Chegando na superfície, por mais que a luz cegasse, o contato com o calor saciava a fome. Agora entendia os girassóis, apesar de não conhecê-los pessoalmente. "Helianthus" é muito mais bonito que "ele antes". Agora entendia como a falta de um "h" tem o poder de profanar. Nadou até a praia, colocou os pés na areia pela primeira vez e caminhou mata adentro, sabendo que pertencimento tem raízes profundas na alma e não num lugar.

3 comentários:

Unknown disse...

Me identifiquei não só com a parte dos girassóis mas também com essa fome de sensações, essa vontade de crescer pra todos os lados e principalmente por dentro.

Obrigado pelas palavras sempre bem ditas e por fortalecer a minha certeza de que esse caminho tem sido o certo. Te amo.

Luana Pinheiro disse...

eu também te amo e sinto saudades. tô aqui, pra sempre. bjo!

Unknown disse...

amo seu blog ;)